Os alunos
conduzidos para o cálculo mental não somente calculam melhor como também
reconhecem mais as operações a efetuar e cometem menos erros de cálculo.
Os
autores afirmam ainda que, graças ao cálculo mental, os alunos se familiarizam
com os números e podem explorar rapidamente diferentes caminhos de resolução
dos problemas, encorajando-os a não recorrer imediatamente a certos algoritmos
confiáveis, mas que necessitam de maior tempo para resolução.
A
pesquisa realizada por Gómez (1995), com estudantes espanhóis, buscou analisar
os erros cometidos pelos alunos durante a resolução de exercícios de cálculo
mental com números naturais e decimais. Após a resolução, os alunos tinham que
explicar como encontraram o resultado, mediante entrevistas individualizadas,
sendo essa informação utilizada para caracterizar os tipos de erros em cálculo
mental. Tais entrevistas “[...] permitiram uma melhor compreensão do
significado e das propriedades das operações, do uso das noções do sistema de
numeração, das expressões numéricas equivalentes, da representação simbólica da
linguagem horizontal das equações [...]” (GÓMEZ, 1995, p. 320).
Correa e
Moura (1997), realizaram um estudo com crianças de 1ª à 4ª série do ensino
fundamental na resolução de adições e subtrações, no intuito de investigar o
uso de múltiplas estratégias na resolução oral destas operações. Os problemas
possuíam o mesmo formato verbal, contendo somas e subtrações com um ou dois
algarismos. Foram identificados três grupos principais de estratégias:
contagem, composição e decomposição.
Os
resultados de tal estudo indicam que “[...] as estratégias usadas no cálculo
mental são flexíveis e parecem desenvolver-se como resultado da compreensão
intuitiva da criança acerca do número e das propriedades do sistema de
numeração, refletidas sob a forma de verdadeiros teoremas em ação [...]”
(ibid., p.11).
Como
podemos observar, a presença dos invariantes operatórios – teoremas em ação – é
outro princípio que temos que considerar, pois estes organizam a ação do aluno,
fazendo com que reconheça os elementos pertinentes da situação e o leve a
tomada de decisão. Os invariantes operatórios são percebidos no estudo do
sujeito em ação, sendo fontes de pesquisa que podem auxiliar o professor a compreender
como o aluno resolveu uma dada situação e que elementos foram considerados no
momento da resolução que o fez a decidir por esta ou aquela estratégia.
A
análise das regras de ação do tipo “se... então...” utilizadas pelo
aluno no trabalho com o cálculo mental também podem constituir material de
pesquisa. Tal análise permite evidenciar
e hierarquizar os procedimentos utilizados na resolução de uma
situação-problema que solicita, por exemplo, o resultado de 15 x 8. O aluno
poderia explicar que realizou a seguinte operação mental: se 5 é a metade de 10 e 10 x 8 =
80, então 5x 8= 40, logo 80 + 40
= 120. Podemos perceber nesse exemplo a utilização da propriedade distributiva
da multiplicação e da adição reiterada, obtendo a solução, sem que fosse preciso
usar o algoritmo.
Vale
destacar que para a análise das regras do tipo “se... então...” também
temos que considerar o sujeito em ação, na busca de uma solução à situação
proposta. Ressaltamos ainda, que é diante de uma variedade de situações que podemos
evidenciar a operacionalidade de um conceito. Isso porque consideramos, assim
como Vergnaud (1985), que existe uma reciprocidade muito grande entre conceito
e situação, tendo em vista que um conceito remete a muitas situações e uma
situação remete a muitos conceitos. Acreditamos que o trabalho com o cálculo
mental permite comprovar essa reciprocidade e favorecer a aprendizagem de
conceitos matemáticos.
Acreditamos
que o trabalho com o cálculo mental permite comprovar essa reciprocidade e
favorecer a aprendizagem de conceitos matemáticos. Além disso, o trabalho com o
cálculo mental possui, de acordo com Boulay; Le Bihan; Violas (2004), duas
funções: a social e a pedagógica. A função social se justifica pelo uso em
cálculos do dia-a-dia, que se manifestam na diversificação de estratégias de
cálculo complexo e na utilização de cálculos aproximados. Já a função
pedagógica tem um papel importante para a compreensão e domínio das noções
ensinadas, haja vista que sua prática pode contribuir para:
·
A construção e o reforço dos
primeiros conhecimentos relativos à estruturação aritmética dos números
naturais inteiros (relações aditivas e multiplicativas dos números), bem como
para compreensão as propriedades das operações;
·
Ampliar capacidade de
raciocínio dos alunos na elaboração de procedimentos originais;
·
Auxiliar na resolução de
problemas, permitindo reconduzir um problema ao seu campo conceitual;
Cabe
ressaltar, também, que podemos observar dois tipos de cálculo mental: o
automatizado e o refletido. Segundo Anselmo e Planchette (2006), o cálculo
automatizado pode ser definido como o cálculo onde os resultados são produzidos
imediatamente de maneira espontânea, sem consciência do caminho seguido.
Já no
cálculo refletido os resultados são obtidos por uma reconstrução pessoal. Esse
tipo de cálculo apoia-se sobre propriedades conhecidas e dominadas pelo
sujeito. Para um mesmo cálculo, os procedimentos variam de acordo com os
indivíduos, com o momento e com o contexto onde este cálculo é proposto. Os
procedimentos são elaborados partir das propriedades implícita ou
explicitamente conhecidas das operações (comutatividade, distributividade,
associatividade) e de resultados memorizados.
De acordo
com os autores, o resultado de um mesmo cálculo pode revelar um cálculo automatizado
ou refletido, variando conforme os indivíduos, o momento e o contexto onde esse
cálculo é proposto. Contudo, as duas formas de cálculo convivem e evoluem,
tendo em vista que o cálculo refletido se nutre do cálculo automatizado, pois a
prática faz com que a memorização aconteça, talvez por preocupação de economia,
fazendo este se torne mais atuante no cálculo mental.
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